segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

O Sabado 2º Parte

Comprei uma bira, pipocas e me postei deitado no sofá em frente a televisão, com o rádio ligado na 1.140 Cruz Alta AM. As três e meia a RBS cortou o programa da grade e começou a mostrar a Taba India lotada. Tinha muita gente. Autoridades no meio do campo entre os jogadores. O cinegrafista ia mostrando todos, bem devagar, até o seu "Boa Tarde" estava lá. Levantou a mão acenando, movimento caracteristico seu. No radio, o Adauri entrevistava o dono da festa no vestiário. Podia notar a voz embargada de quem muito tinha contribuido pelo futebol da cidade. Apenas uma pergunta ficou sem resposta: "Por quê? Porque nunca aceitou jogar por um time profissional?"
Isso é verdade. Adão tinha recebido varias propostas de integrar uma equipe profissional. O São Luís de Íjui ofereceu ate uma casa para ele envergar a camisa vermelha que era um dos orgulhos da cidade. A S.E.R Santo Ângelo, Atletico Carazinhense, O antigo Aymoré e o próprio Guarani, de Cruz Alta tinha tentado a contratação através de uma intensa movimentação popular. Rifas, raspadinhas e doações não tinham conseguido demover o craque de suas convicções.
Os mais chegados, como joca, que tambem tinha jogado com ele por muito tempo disse que em um churrasco tinham perguntado o porquê não tinha aceitado nenhuma oferta.
"E, trair o Grêmio Esportivo Alvorada? O Botafogo da Vila Hilda? Não. Até um jogador como eu, que jogo por amor ao futebol devo ser compreendido. O futebol deve alimentar minha alma e não minha conta bancaria. Sou feliz assim. O dinheiro traria uma satisfação material, mas não me faria feliz jogando." Grande.
Com certeza era um dos atletas mais respeitados e adorados da zona sul.
O jogo ia começar. Lá estavam Valduíno, Chico cebola, Hermes, Batista, Catê marcando presença. A Querida Mais Linda da Cidade ia dar o pontapé inicial, o cinegrafista malandro só mostrava as pernas e a bunda. Que bunda. Era um bom cinegrafista.
Estava dificil tirar o pessoal de dentro do campo.
Tudo controlado, ia começar ao jogo. A Mais Querida da Cidade fez sua parte e foi saindo de campo ovacionada. "Gostosa, Gostosa" gritavam na geral, o pessoal das cadeiras e os gândulas. Acho até que ouvi o Adão gritando.
Bola rolando e ela foi lançada para o Adão, que já estava enfiado entre os zagueiros. Lançamento longo, A "la Gerson", preciso. Adão mata no peito, deixa ela cair no chão, mansa, e, ja olhando a posição dos adversarios. Olhar de águia, atento na proxima jogada, um corte para a esquerda, um zagueiro ja ficou pra trás, dois passos e a bola dominada, a canhota ja preparada para o chute, quando Adão leva a mão na coxa direita... O estádio ficou em silêncio de morte e, eu dormi.
Apaguei. A mãe estava costurando perto da janela, viu que eu tinha dormido, deixou. Perdi de ver o jogo inteiro.
Quando acordei na tv ja estava passando uma daquelas novelas instrutivas, no rádio estava sendo apresentadas as noticias da região. Meu vinho estava intocado e a mãe estava na Dona Helena tomando mate. Olhei pela porta e só escutava o barulho para os lados do salão do Antero, onde seria o jantar. No churrasco eu ia. Perdi o jogo, mas nem pensar em perder a bóia.
Acho que dormi por conta do cansaço. Quando sai do banho a mãe chegou e só dei uma olhada pra ela que sorriu.
Botei minha melhor e única muda de roupa. Com a domingueira no corpo e saltei porta afora. Na porta de entrada encontrei o Juquinha com uma camisa listrada, tipo de marinheiro, o Tatu, o Eliseu, o "nêgo" Julio que tinha vindo de Torres só pra festa, e ainda se gabava de ter jogado no Guarani nos anos 1980. O Pyno ja estava com o olhar parado, o Bylei e o Diego ja estavam "prontos". O Íssio estava fumando um crivo de cantão.
O momento era festivo e alegremente conversavamos sobre as jogadas do craque da vila. Lembravamos da saudosa equipe que alegrava nossas tarde de domingo, quando o destino não era a lagoa da exposição.
Tinha muita gente e querer descrever todos que ali estavam seria pedir muito. O esquecimento poderia ofender alguem, mas quem estava lá lembra das lágrimas do Adão no discurso. Da mostra de troféus de melhor em campo, centenas, senão milhares.
A festa se foi noite adentro, a Banda do Eba animando a festa. A Brigada apareceu e todo mundo pensou que ela ia chegar "arrepiando". Que nada. Foi arrumada uma mesa e comeram com satisfação. Fazia umas duas horas que o dono da festa e A Querida Mais Linda da Cidade tinham sumido da festa. Especulações a parte, a festança atravessou a madrugada.
Que venha o domingo

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